Nos últimos 30 anos, o centro de Campo Grande tem passado por um processo contínuo de retração econômica e social. Levantamento recente da CDL Campo Grande analisou o quadrilátero central formado pelas ruas Rui Barbosa, Calógeras, 26 de Agosto e avenida Mato Grosso — área que, historicamente, concentrou o comércio, os serviços e a vida urbana da capital.
Mesmo com investimentos relevantes em requalificação urbana, como os mais de R$ 60 milhões aplicados no programa Reviva Centro, os indicadores apontam para um agravamento da crise. Entre 2018 e 2025, o número de empresas ativas nessa região caiu de 3.439 para 826 — uma redução de 75,9%.
Indicadores da retração (2018–2025)
Empresas em funcionamento:
Comércio: 1.971 → 394 (queda de 84,7%)
Serviços: 1.439 → 432 (queda de 69,9%)
Indústria: 2 → 0 (encerramento total)
Ticket médio por compra:
R$ 162,00 (2018) → R$ 48,00 (junho/2025)
→ queda de 70,4% no gasto médio por consumidor
Vagas de estacionamento perdidas: mais de 800
→ impacto direto na mobilidade e na permanência de clientes
Fatores que contribuíram para o declínio
- Encerramento das atividades da estação ferroviária
- Fechamento da antiga rodoviária, importante polo de circulação intermunicipal
- Lei da Cidade Limpa, que eliminou fachadas comerciais tradicionais da Rua 14 de Julho
- Obras prolongadas do Reviva Centro, com prejuízos diretos à mobilidade e ao comércio
- Redução significativa de vagas para estacionamento, sem compensação com rotativo eficiente
- Transporte coletivo com baixa cobertura e confiabilidade
- Crescimento acelerado do e-commerce, que já responde por 16% do consumo nacional
- Digitalização bancária, com o fechamento de agências e migração para aplicativos
- Mudança no comportamento do consumidor, que agora valoriza praticidade e proximidade
- Emergência do conceito das “cidades de 15 minutos”, reforçado pela pandemia e pelo home office
Impactos percebidos no dia a dia
- Menor fluxo de consumidores nas ruas e no comércio
- Aumento da sensação de insegurança
- Deficiências na limpeza e manutenção urbana
- Aluguéis elevados em imóveis antigos e pouco adaptáveis
- Estacionamentos particulares com tarifas altas e horários limitados
- Crescimento da população em situação de rua e de usuários de drogas
- Redução na arrecadação e nos postos de trabalho da região central
Propostas para a reativação econômica e urbana
Infraestrutura e serviços:
- Limpeza urbana constante e manutenção paisagística
- Reforço da segurança pública, com combate direto ao tráfico
- Atendimento integrado de assistência social e saúde à população vulnerável
Incentivos e regulação:
- Desoneração para novas moradias e estabelecimentos comerciais
- Apoio à implantação de estacionamentos privados e relicitação do sistema rotativo
- Aumento do IPTU para imóveis comerciais desocupados há mais de seis meses
- Programas de requalificação profissional para trabalhadores da região central
Valorização cultural e institucional:
- Transferência de secretarias municipais para imóveis no centro
- Criação de programação cultural permanente nos fins de semana
- Realização de eventos gastronômicos, feiras e atividades ao ar livre
Apelo à Prefeitura de Campo Grande
É hora de enxergar o centro de Campo Grande não como um vestígio do passado, mas como uma oportunidade concreta de reconstrução econômica e social. A CDL Campo Grande faz um apelo firme e respeitoso para que o poder público municipal assuma o compromisso de investir, ouvir e agir com planejamento, priorizando a revitalização da região central.
Ali vivem e trabalham comerciantes, ambulantes, prestadores de serviço, famílias inteiras. O centro precisa voltar a pulsar — e não pode mais esperar.
Campo Grande, 27 de junho de 2025
Adelaido Vila
Presidente da CDL Campo Grande